quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ira, 1979: uma Revolução Interrompida - Marcos Margarido

Artigo retirado da revista Marxismo Vivo. Disponível em: http://www.archivoleontrotsky.org/phl/www/arquivo/MV22pt/MV22pt-13m.pdf


O início da década de 1970 conheceu a primeira recessão simultânea e generalizada nos países imperialistas no pós-segunda guerra. Os 20 anos do boom da economia, iniciados por volta de 1950, haviam chegado ao fim. O ano de 1975 foi marcado pela queda assombrosa do PIB dos Estados Unidos, Alemanha, Japão, França e Inglaterra. A produção industrial no segundo trimestre de 1975 caiu 14% nos EUA, 20% no Japão e 10% na Inglaterra. Depois de duas décadas de “pleno emprego”, chegou-se a um total oficial de 17 milhões de desempregados no conjunto dos países imperialistas, além de uma alta da inflação que atingiu níveis insuportáveis em todos os países do mundo.

Na década de 70, os EUA sofreram sua primeira derrota militar clara no Vietnam. A revolução portuguesa de abril de 1974 abriu um processo que além de derrotar a ditadura salazarista possibilitou a libertação de suas colônias da África e incendiou o continente negro. No Oriente Médio, sucediam-se os enfrentamentos com Israel, em que os países arabes foram derrotados, como na guerra do Yom Kipur, enquanto a guerrilha palestina seguia resistindo e o Líbano ardia em plena guerra civil. A década assistiu ainda ao seu final as revoluções nicaraguense e iraniana.

Neste cenário, os países árabes membros da OPEP resolvem quadruplicar o preço do petróleo em 1973, como retaliação à derrota na guerra do Yom Kipur para Israel, gerando uma renda extra aos países exportadores de petróleo, os petrodólares, estimados em US$ 180 bilhões em 19801.

O Irã, assim como os demais países produtores de petróleo, inseria-se na divisão mundial do trabalho como exportador de matérias primas - o petróleo - e com um desenvolvimento capitalista totalmente subordinado aos interesses imperialistas. A renda do petróleo aumenta a cobiça imperialista e os conflitos interburgueses pela sua posse, gerando o aumento da miséria da população paralelamente à acumulação capitalista. No Irã, essa combinação atingiu níveis explosivos, que passamos a analisar.


O rei dos reis

Mohammad Reza Pahlevi foi o segundo Xá da dinastia Pahlevi. Foi empossado após a ocupação do país pelos exércitos da Inglaterra e da União Soviética em 1941, em substituição a seu pai, Reza Khan, soldado do exército iraniano, que também havia subido ao poder através de um golpe contra o reinado da dinastia Oajar em 1921.

O início da década de 50 assistia ao crescimento de uma onda nacionalista que varreu o Oriente Médio e desembocou no nasserismo, o movimento liderado pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, que buscava uma independência relativa em relação ao imperialismo, para estabelecer melhores condições de negociação com ele. No Irã, tal movimento era liderado por Mohammed Mossadegh, eleito primeiro-ministro em 1951, um mês depois da nacionalização da Anglo-Iranian Oil Company pelo parlamento iraniano, um golpe ao principal imperialismo da região.

Por essa ousadia, os governos imperialistas dos Estados Unidos e Inglaterra, através de seus serviços secretos, planejaram a queda de Mossadegh, conseguida após uma primeira tentativa frustrada, que resultou na queda e exílio do Xá. O general Fazlollah Zahedi foi nomeado primeiro-ministro e Reza Pahlevi reempossado, selando sua submissão aos desígnios norte-americanos.

Em 1963 institui a Revolução Branca3, com o objetivo de transformar o Irã na quinta potência mundial e aproximá-lo ao mundo ocidental. A “modernização” buscada pelo Xá seguia a lógica da dominação imperialista de um país semicolonial, com sua abertura ao capital estrangeiro, ávido pela renda do petróleo. Cerca de US$ 250 bilhões acumulados pelo Irã entre 1974 e 1980 pela alta do petróleo foram utilizados na importação de bens de capital e de consumo. Enquanto isso, a burguesia nacional comerciante, conhecida como burguesia do bazar, era reduzida ao papel de “mendigo” que se alimenta dos restos do banquete da exploração capitalista.

A expansão industrial do país garantiu a presença maciça de empresas norte-americanas - cerca de 500 segundo a revista Fortune – e a expansão das Forças Armadas iranianas, com 475 mil soldados, para a proteção de sua propriedade. Os Estados Unidos conseguiam, assim, impor seu controle da região a partir do enclave israelense e do Irã, o único país do mundo muçulmano que reconhecia o Estado de Israel.

A associação com o capital estrangeiro foi levada a cabo por meio do controle da oposição e do uso da força contra a população. Em 1975 os partidos políticos foram extintos e um regime de partido único, o Partido da Ressurreição, foi fundado, justificado de maneira clara pelo Xá:

Uma pessoa que não entrar no novo partido político e não acreditar nos três princípios cardeais tem apenas duas opções. Ou ele é um indivíduo que pertence a uma organização ilegal ou está ligado ao clandestino Partido Tudeh, em outras palavras, é um traidor.

Pahlevi dizia que o lugar dos traidores era a prisão ou o exílio, e a Savak, uma das polícias políticas mais cruéis do mundo, desdobrava-se dia e noite para identificá-los, prendê-los, torturá-los e executá-los. Estima-se que cem mil pessoas estavam presas em 1976, mas o regime reconhecia a existência de “apenas” 3500 presos políticos.

A situação de miséria e desemprego das massas, gerada pela Revolução Branca, foi agravada pela crise iniciada em 1974. A capitalização do campo causou o êxodo de milhões de camponeses às cidades onde o desemprego e a inflação os esperava. Estas sequer possuíam redes de água e esgoto, apesar das enormes somas obtidas pela renda do petróleo. Os salários dos trabalhadores foram congelados e até um “passaporte interno” para controlá-los foi instituído. A burguesia do bazar foi prejudicada com o aumento dos impostos. O clero xiita, da religião muçulmana, beneficiava-se politicamente dessa situação ao capitalizar o descontentamento de amplas camadas da população, reunidas nas chamadas cidades santas, como Qom, que se transformavam nos redutos da oposição ao Xá.


A revolução dá seus primeiros passos

As primeiras mobilizações, realizadas pela juventude e intelectuais, ocorreram em 1977, exigindo o respeito à constituição de 1906 ainda em vigor, a defesa da liberdade de imprensa e da independência do poder Judiciário.

Os protestos seriam intensificados em 1978, quando ocorre o Massacre de Qom em 9 de janeiro, a cidade santa que se tornaria a morada oficial do aiatolá Khomeini. A manifestação de 4 mil estudantes e líderes religiosos contra o jornal Ettela’at controlado pelo Xá, que acusava o aiatolá, exilado desde 1963, de ser homossexual, terminou numa repressão brutal com o resultado de pelo menos 10 mortos. A tentativa de calar as vozes da oposição surtiu um efeito contrário; em 18 de fevereiro comemorou-se o arba’een - o luto xiita de 40 dias - com manifestações de massas em todo o país. Em Tabriz, a população de maioria curda ocupa a cidade sem que os militares locais a reprimissem. Pahlevi foi obrigado a deslocar tropas para executar outro banho de sangue. Estima-se em cem pessoas mortas e, mais uma vez, as manifestações alastraram-se, desta vez para Ahwaz, importante centro petrolífero do Irã.
Novas manifestações voltam a ocorrer em Isfahan, onde foi imposta a lei marcial em 16 de agosto, após os primeiros sinais de fraqueza do regime ditatorial. O chefe da Savak era substituído por Nasser Moghadam em junho e o próprio Xá prometia a realização de eleições gerais em 1979. Dez dias depois o primeiro-ministro é substituído por Jafar Sharif-Emami, que abole o calendário imperial 4 instituído pelo Xá e declara a legalidade de todos os partidos políticos. Era a primeira vitória democrática das massas, embora o núcleo repressor do regime - as Forças Armadas e a Savak - continuasse intacto.

O imperialismo mantinha seu apoio a Reza Pahlevi. Numa coletiva à imprensa, o presidente dos EUA, Jimmy Carter, declara que “eu espero que o Xá mantenha o poder... o Xá tem nosso apoio e também tem nossa confiança” e o diretor da CIA, Stansfield Turner, afirma que “recebi um relatório da assessoria onde é dito que o Xá vai sobreviver por mais dez anos” no poder.


Morte ao Xá!

O grito de guerra da revolução - Morte ao Xá! - foi escutado pela primeira vez em Tabriz e espalhou-se a todas as manifestações do país. Em 4 de setembro uma manifestação de 4 a 5 milhões é realizada em Teerã para comemorar o Eid ul-Fitr, o feriado do fim do Ramadã5, e se transforma num gigantesco protesto político. A lei marcial é decretada em 12 cidades no dia 8, mas, ainda assim, milhares de pessoas voltam a sair às ruas de Teerã para reunir-se na Praça Jaleh, onde as tropas reais começam a atirar contra a multidão, de helicópteros e do solo, assassinando centenas de pessoas6 no massacre conhecido como “sexta-feira negra”.

No dia seguinte, Khomeini, do exílio, chama a realização de uma greve geral. Além das mobilizações populares, os métodos e reivindicações típicos da classe operária passam a ser incluídos na agenda revolucionária. As greves começam a pipocar envolvendo milhares de operários e culminam numa greve geral dos petroleiros no fim do mês que, por sua vez, incendiou a população em manifestações e rebeliões de apoio por todo o país.

Durante o mês de outubro as greves se sucedem. São bancários, funcionários públicos, mineiros, trabalhadores têxteis, dos correios e telégrafos, transportes e rádio e televisão. Os jornalistas param no dia 11 de outubro. Os bancários paralisam o sistema financeiro do país, com a greve do Banco Central, seguida do incêndio de cerca de 400 agências bancárias pelas massas. Os bancários revelaram que 178 pessoas ligadas ao Xá haviam transferido um bilhão de libras ao exterior. Mas não só seus amigos. Segundo David Rockfeller, presidente do Chase Manhattan Bank, Pahlevi possuía depósitos de US$ 2 bilhões, cuja retirada poderia levar o sistema bancário norte-americano à bancarrota.

Finalmente, depois de mobilizações permanentes enfrentando a repressão armada e a prisão de líderes, uma greve geral de petroleiros iniciada em 21 de outubro sela o destino do Xá. Negam-se a produzir petróleo sob a ditadura. O primeiro-ministro Sharif-Emami renuncia em 4 de novembro e o Xá faz um pronunciamento na TV dizendo que “ouvi a voz de sua revolução ... Como Xá do Irã e como cidadão iraniano, eu devo apoiar sua revolução”. Sucedem-se a nomeação do general Reza Azhari para primeiro-ministro que, no entanto, impõe a lei marcial.

No início de dezembro, cerca de 9 milhões, num país com 35 milhões de habitantes, saem às ruas exigindo a “morte ao Xá”. Uma declaração de 17 pontos é apresentada com a exigência de “independência, liberdade, república islâmica” e a afirmação de que o aiatolá Khomeini é o líder dos iranianos. Os comandantes não conseguem ordenar a repressão e os manifestantes sobem nos tanques e caminhões para se solidarizar com os soldados, entregandolhes flores.

A última jogada do Xá foi a indicação de um antigo líder oposicionista para primeiro-ministro, Shapour Bakhtiar, em 29 de dezembro. Ele tentaria uma transição pacífica ao novo regime em acordo com Mehdi Bazargan, futuro chefe do governo revolucionário provisório de Khomeini. “O roteiro da transição seria: a partida do Xá, a instauração de um Conselho da Coroa, convocação de eleições gerais e livres, instalação de uma Assembléia Constituinte e, por fim, a transferência do poder”(7). Mas o retorno de Khomeini em 1º de fevereiro de 1979 e uma gigantesca manifestação de mais de um milhão de pessoas nas ruas de Teerã em 8 de fevereiro exigindo a renúncia de Bahtiar impede qualquer acordo. Em 11 de fevereiro de 1979 completa-se a dissolução da monarquia, com a ocupação de Teerã por forças guerrilheiras, a população armada e tropas rebeldes. Reza Pahlevi não presenciou a queda de seu próprio império, pois em 16 de janeiro de 1979 havia embarcado num Boeing pilotado por ele próprio rumo ao Kuwait, primeiro, e aos Estados Unidos, definitivamente, para “tirar férias e tratar de uma doença”, onde morreria em 1981.


Uma revolução operária

A revolução do Irã foi marcada por grandes manifestações, convocadas pela hierarquia xiita e organizações sindicais e políticas de várias tendências. O protesto de dezembro, com 9 milhões de pessoas nas ruas, é considerado a maior concentração popular da história das revoluções.

Mas é necessário olhar para a ação operária para entender a dimensão dessa grandiosa revolução. Nos últimos 15 anos da ditadura, com a “modernização”, uma classe operária poderosa seria formada a partir dos investimentos imperialistas, enquanto a burguesia nacional perdia sua força relativa.

Havia, em 1978, dois milhões de operários industriais, além de 750 mil trabalhadores nos setores de transportes e outros serviços, concentrados em bairros da periferia das grandes cidades. A maioria das empresas era de pequeno porte, com 35 a 50 empregados, ao lado de fábricas gigantes que dominavam a cena, principalmente do setor petroquímico, automobilístico e da construção civil, algumas delas com dezenas de milhares de trabalhadores. Pode-se fazer um paralelo com a Rússia na revolução de 1917, que possuía uma classe operária de 4 milhões para 150 milhões de habitantes, enquanto no Irã havia quase o mesmo número de operários para 35 milhões.

Foi este contingente que marcou o fim do reinado do Xá, ao paralisar a economia do país com suas greves, principalmente da categoria petroleira. É como afirmava uma declaração da Ala Militante dos Trabalhadores de Indústrias Petrolíferas do Irã de 5 de junho de 1979:

Os trabalhadores da indústria petrolífera foram os que derrubaram o regime de 2500 anos de monarquia e despotismo. Quando sua heróica greve deteve o fluxo do petróleo, cortaram a veia jugular da monarquia. E ao romper a barreira representada pela monarquia, abriram as portas à liberdade e à abundância para uma sociedade atrasada como a nossa.

As esperanças numa nova liberdade eram enormes, e as massas começaram a exercê-la com a constituição de comitês revolucionários, os shoras. Foram criados para ocuparem-se da distribuição de alimento e combustível à população, durante a greve geral que decretou a queda do Xá, e posteriormente adquiriram um caráter militar, prendendo membros do antigo regime e executando os agentes da odiada Savak. Espalharam-se por todas as cidades do país e na capital, Teerã, chegaram a existir 14 grandes comitês e outros 1500 de menor alcance.

Após a queda do Xá, multiplicaram-se e se desenvolveram de forma independente em relação à burguesia, constituindo-se em embriões de duplo poder. O jornal New York Times de 24 de fevereiro de 1979 publicava uma matéria de seu enviado especial, onde se podia ler:

Além dessas autoridades centrais há grupos que têm boas conexões e podem conseguir coisas, como os aiatolás e os mulás. Finalmente, quase todos os ministérios, bancos, escritórios ou fábricas têm um comitê de trabalhadores pelos quais todas as ordens devem passar para ter alguma chance de aprovação. O membro do gabinete do primeiro-ministro, Abbas Amir Entezam, reclamou na última quarta-feira que “apesar do comando do Aiatolá, nenhuma das grandes indústrias estão operando porque os operários gastam todo seu tempo realizando reuniões políticas”.

Tais reuniões tinham como objetivo organizar a produção sob o controle dos trabalhadores, a conquista de reivindicações econômicas, e a construção de sindicatos. Segundo um jornal da época, “os petroleiros ... formaram recentemente uma organização nacional, o Sindicato Nacional dos Petroleiros. Estão reivindicando jornada semanal imediata de 42 horas e a abertura dos livros de contabilidade das empresas petrolíferas. Se o governo [de Khomeini] não responder em três dias, entrarão em greve”.

A burguesia e a hierarquia xiita desejavam a normalização imediata do país e o fim dos comitês revolucionários, mas as condições políticas lhes eram desfavoráveis. Mehdi Barzagan, o primeiro-ministro indicado por Khomeini, reclamava que os comitês estavam se constituindo num “poder paralelo ao meu próprio governo provisório”.


Ideologia e realidade

O fato de a revolução iraniana ter sido dirigida por líderes religiosos, como o aiatolá Khomeini, levou os propagandistas do imperialismo a afirmar que sua causa fundamental foi religiosa, com muçulmanos fanáticos que repudiavam a modernização ocidental e desejavam retornar à idade média para construir uma República Islâmica, submetida às leis do Corão. Seria, em essência, uma revolução reacionária.

É verdade que as medidas de ampliação dos direitos da mulher adotadas pelo Xá, como a permissão para frequentar a universidade, o direito ao voto e ao divórcio8, sofreram a oposição do reacionário clero xiita. É verdade, também, que essa a propaganda religiosa era difundida a todo o mundo por Khomeini desde Paris, seu local de moradia desde 6 de outubro de 1978.

Porém, como disse Marx, “cada época acredita piamente no que a época em questão diz de si própria e nas ilusões que cria sobre si própria”9, e isso vale perfeitamente para os ideólogos da República Islâmica. Mas é necessário fazer a distinção entre o que cada um pensa ser e o que realmente é. Vejamos:

A República Islâmica defendida por Khomeini tinha duas instituições principais: os poderes executivo e judiciário. Estas instituições teriam a obrigação fundamental de aplicar e defender as leis divinas, escritas no Corão. O sistema judiciário seria composto por pessoas com conhecimento profundo destas leis, o clero xiita. E “no alto do poder temporal encontra-se o imã, em sua função de intérprete supremo das leis divinas, de guia espiritual e de coordenador dos aparelhos judiciário e executivo”(10). Khomeini seria confirmado imã após a aprovação da constituição islâmica no plebiscito de 1º de abril de 1979. Para conhecermos o significado concreto de sua investidura, basta remover o manto religioso que encobre a constituição para verificar sua condição de Bonaparte(11), com a missão de reconstruir o Estado burguês.

Da mesma forma, a burguesia nacional iraniana não entrou em choque com o imperialismo para defender uma hipotética superioridade do islã sobre o cristianismo ocidental, mas para tomar posse da renda do petróleo. Tratava-se de uma burguesia frágil de conjunto, que perdera força perante o movimento de massas com a capitulação do nasserismo ao imperialismo na década de 60 e via nascer “uma nova corrente de massas, que organizava camadas inteiras da pequena burguesia e setores desclassificados”(12), através de uma rede de 180 mil mulás que controlavam o movimento através de uma ideologia religiosa. Sem condições de impedir a revolução e temendo muito mais a insurreição operária do que a dominação imperialista, a burguesia volta-se ao islamismo, “que rechaça simetricamente o imperialismo e a emancipação do proletariado”13, para derrotar o processo revolucionário.

Por isso, assim que Khomeini assumiu o poder, a indústria petrolífera foi nacionalizada, bem como todo ramo energético e bancário. As propriedades do Xá foram expropriadas e o comércio exterior ficou sob controle estatal. São políticas muito mais próprias de uma burguesia nacional em luta contra o imperialismo para manter sua parte na mais-valia extraída e sob o peso de um processo revolucionário gigantesco, do que de um anticapitalismo reacionário ávido por um retorno à época feudal.


A contrarrevolução

A queda do Xá causou a liberação das forças revolucionárias da população. Os shoras surgiam em todas as partes, revelando a força do movimento operário. No campo eram criadas organizações semelhantes para a ocupação das terras. As organizações de esquerda saiam da clandestinidade e publicavam inúmeros jornais, enquanto as minorias nacionais de língua árabe, turcomana e curda exigiam autonomia em suas regiões.

A burguesia dividia-se, com o surgimento de um setor contrário ao controle total do aparato estatal pelo clero xiita, representado por Bazargan e Bani Sadr. Este setor refletia interesses diversos em relação ao imperialismo e quanto aos métodos utilizados para controlar o movimento operário. Preferia desviar a revolução para o rumo da democracia burguesa, com suas instituições “representativas” e eleições regulares. Mas tais instituições eram inexistentes no Irã, o que debilitou suas posições. Apenas um Bonaparte, capaz de colocar-se “acima” das classes pela sua posição de imã, poderia manobrar adequadamente entre as pressões do imperialismo de um lado e do movimento de massas de outro. Sua ideologia reacionária, posta a serviço da defesa irredutível da propriedade privada, combinada com a repressão brutal foram as formas encontradas pela burguesia do bazar para a defesa de seus interesses históricos de classe.

Em junho de 1979 uma nova lei de imprensa foi aprovada, dando o sinal verde para a perseguição aos jornais de esquerda. E agosto a redação do Ayandegan foi fechada, seguindo-se o fechamento de 34 jornais de oposição no mesmo mês. Em setembro os dois maiores jornais burgueses do país, Kayhan e Ettela’at, foram expropriados e transferidos para a Fundação dos Deserdados, controlada pelo clero.

Os partidos oposicionistas foram postos na clandestinidade, como o Mujahedeen-e Khalq (Mujadines ou Lutadores do Povo), guerrilha pequeno-burguesa de ideologia muçulmana, e o Hezb-e Kargaran-e Sosialist (HKS ou Partido Socialista dos Trabalhadores), trotsquista. Massoud Rajavi, líder dos Mujadines, foi obrigado a exilar-se na França, enquanto 14 dirigentes do HKS foram presos, doze dos quais condenados à morte.

O único partido operário que permaneceu legalizado durante três anos foi o Tudeh (Partido Comunista Iraniano), de orientação stalinista, por declarar lealdade a Khomeini e apoiar o clero xiita em sua repressão às organizações de esquerda. Apenas em 1982, devido à ocupação do Afeganistão pela burocracia soviética, os membros do Tudeh foram considerados agentes de uma potência estrangeira e postos na ilegalidade. Em fevereiro do ano seguinte Nureddin Kianuri, principal dirigente do Tudeh, foi preso. Kianuri, como bom stalinista, confessou na televisão ser espião da União Soviética.

O levante da minoria curda pela autodeterminação foi o mais importante e adquiriu um caráter de massas. Os curdos, dirigidos pelo Partido Democrático, exigiam a autonomia administrativa do Cordestão, o direito à sua própria língua e cultura, uma participação específica na receita nacional e a responsabilidade pelas forças locais de segurança. O descontentamento da minoria curda ficou demonstrado no plebiscito constitucional, rejeitado pela imensa maioria da população sob a palavra de ordem de “abaixo o plebiscito, primeiro a autodeterminação”. Os choques com as forças armadas de Khomeini começaram em agosto de 1979, sob o governo de Bazargan. A guerrilha curda chegou a controlar parte de seu território, até que o exército iniciou uma ofensiva, ocupando a cidade de Bukan em novembro de 1981 e todo o território em 1983.

A repressão também atingia os shoras que não se sujeitaram às novas instituições da república islâmica. Segundo a Anistia Internacional, pelo menos 900 pessoas foram executadas entre janeiro de 1980 e junho de 1981, em sua maioria lutadores da esquerda e da minoria curda. Nos doze meses seguintes, mais 2974 mortes foram computadas. Estima-se em 20 mil o número de prisioneiros políticos durante 1981 e, conforme a revista Time, cerca de cem mil em 1984(14). São números que nada deixam a desejar da época do terror imperial.

As forças khomeinistas conseguiram, finalmente, consolidar sua posição em fins de 1981, tomar o controle absoluto do poder e estabilizar relativamente o Estado burguês. Além da sangrenta repressão interna, a invasão do Irã pelo Iraque muito contribuiu para isso.


A guerra Irã-Iraque

Em 22 de setembro de 1980, Saddam Hussein invade o Irã para impedir que o processo revolucionário avançasse para o território iraquiano através da comunidade xiita, que compõe 70% da população iraquiana, e do levante curdo. O exército iraniano consegue repelir o invasor e no início de 1982 o território iraniano estava liberado. Khomeini, no entanto, decide continuar a guerra, que duraria mais seis anos, ao custo de pelo menos 500 mil vidas.

O ataque da ditadura de Hussein ocorreu num momento vital do processo revolucionário. “O movimento independente dos shoras, depois de uma reativação ao calor de uma onda de lutas econômicas da classe operária era o alvo de uma ofensiva frontal por parte do regime. A campanha de “união nacional” que o regime islâmico pôde encarar frente ao ataque iraquiano,permitiu-lhe dar golpes decisivos contra toda expressão independente da classe operária”(15).

Apesar de uma guerra sem país vencedor, pois acabou por um acordo na ONU, ela atingiu o objetivo que os Estados Unidos e a burocracia soviética perseguiam ao dar apoio a Hussein: ajudar a derrotar a onda revolucionária. Nesse sentido, pode-se dizer que o maior beneficiado pelo resultado, além do próprio Khomeini, foi o imperialismo, pois esgotava a energia anti-imperialista das massas iranianas e impunha limites ao grau de independência política conseguida pelo Irã com a queda de Pahlevi.


As contradições da luta anti-imperialista

A revolução iraniana tinha um caráter democrático e anti-imperialista, que estava se transformando em revolução social pelo impulso das massas contra a exploração capitalista. Além de arbitrar o conflito entre a burguesia nacional e a classe operária, Khomeini desempenhava o papel de um bonapartismo sui generis, pois manobrava entre a mobilização das massas e a pressão imperialista para não perder o controle do processo, ao mesmo tempo em que zelava pela manutenção da propriedade privada. Este duplo papel limitava a luta pela independência nacional, devido ao caráter dependente da burguesia.

Esta contradição ficou claramente demonstrada quando, em 4 de novembro de 1979, estudantes, incentivados pelo chamado de Khomeini para uma “mobilização geral contra o grande Satanás, os Estados Unidos”, invadiram a embaixada norte-americana sem sua prévia autorização, para exigir a extradição de Reza Pahlevi e a devolução de sua fortuna depositada nos bancos dos EUA.

Com a lembrança ainda recente da derrota no Vietnã e a campanha pelos “direitos humanos” do presidente Carter, os Estados Unidos não ousaram invadir o Irã. E ficaram desmoralizados ao realizar uma operação secreta para o resgate dos 66 reféns - a Operação Garra da Águia -, que terminou com a morte de oito soldados no choque de um helicóptero com um avião norte-americanos em território iraniano.

Mas a “crise dos reféns”, em vez de uma vitória contra o “grande Satanás”, desembocou numa capitulação vergonhosa do governo iraniano. Os reféns foram libertados em 20 de janeiro de 1981 por um acordo com o novo governo de Ronald Reagan16, pelo qual os EUA liberavam US$11 bilhões de fundos iranianos retidos pelos bancos norte-americanos em troca do pagamento de US$ 5,1 bilhões de empréstimos fraudulentos realizados por Reza Pahlevi.


A crise da direção revolucionária

Apesar de antiga tradição marxista – a delegação iraniana no Congresso dos Povos do Oriente, organizada pela III Internacional em 1920, era a segunda em tamanho, com 192 membros17 – o longo período da ditadura dos Pahlevi havia impedido seu desenvolvimento. Apenas o Tudeh, de origem stalinista, encontrava-se em condições de organizar uma parcela dos trabalhadores no período revolucionário. Mas seu papel traidor durante seu período de legalidade, seu histórico de capitulações, como o apoio à Revolução Branca do Xá, e sua submissão incondicional à burocracia soviética impediram que se transformasse numa alternativa para a classe operária.

Os jovens partidos marxistas, como o HKS, sofreram uma perseguição implacável e as variantes pequeno-burguesas do islamismo, como os fedaines e os mujadines, embora tenham sido oposição ao regime de Khomeini, apoiavam a República Islâmica e não defendiam a independência de classe em seus programas. Outros grupos, como o Paykar (uma dissidência marxista dos mujadines) e a União dos Comunistas tiveram seus líderes assassinados em 1983, além da prisão e execução de milhares de militantes.

Ao drama da revolução, soma-se o da ausência de um partido revolucionário que não pôde ser construído no calor de uma luta tão complexa como a que se deu no Irã, um país muçulmano em que:

O combate contra as direções islâmicas [deve ser feito]... pondo no centro as necessidades da luta de classes, o combate ao imperialismo e aos governos lacaios. Desmascarar sua inconsequência, seu palavrório, sua submissão aos interesses burgueses, seu falso igualitarismo, é parte do combate e o fazemos deste ângulo, o da luta dos trabalhadores por cima das crenças religiosas, e não do combate à religião. (18)


Uma revolução interrompida

Com a consolidação do poder por Khomeini em fins de 1981 e uma relativa estabilidade das instituições islâmicas a partir de 1985, com a transformação da burguesia do bazar o do próprio clero xiita numa grande burguesia industrial e financeira, o Irã continua refém de suas contradições internas, com as mais elementares tarefas democráticas não resolvidas.

A burguesia iraniana, com seus atuais chefes islâmicos demonstraram na prática esse limite estrutural, histórico, das burguesias coloniais e semicoloniais que são incapazes de realizar até o fim as tarefas democráticas que historicamente as revoluções burguesas cumpriram na aurora do capitalismo, a saber, a independência nacional, a reforma agrária e as liberdades democráticas.Em relação ao imperialismo, o Irã consegue sua independência política com a revolução de 1979. Mas, a partir do momento em que a revolução é congelada nos marcos do capitalismo, quando a burguesia nada tem a oferecer, nem mesmo a realização de suas próprias tarefas históricas, o retrocesso é sempre iminente. Como veremos no artigo seguinte, a tendencia à abertura ao capital estrangeiro e à acomodação ao sistema imperialista vem se intensificando desde a consolidação do novo regime.

A revolução iraniana passa à história como uma das mais importantes que a humanidade já conheceu, mas ao não expropriar a burguesia para a construção de uma sociedade socialista sua tarefa não foi terminada, tivemos uma extraordinária revolução desviada e abortada, ao permanecer o domínio capitalista.



Notas
1 Os valores em dólares são nominais, relativos ao ano mencionado. Para se obter os valores equivalentes em 2009, deve-se multiplicar o valor dado por 4 se o ano for 1975, 3,3 se for 1978 e 2,6 para 1980.
2 MANDEL, E. A crise do capital. São Paulo: Ed. Ensaio, 1990, p. 39
3 Revolução branca: revolução realizada “por cima”, em oposição às revoluções populares ou socialistas, consideradas “vermelhas”.
4 O calendário imperial substituiu o antigo calendário persa, causando a ira do clero xiita.
5 Ramadã: nono mês do calendário islâmico, onde os muçulmanos praticam o jejum. É considerado o mês em que foi revelado o Corão.
6 Este número é motivo de muitas controvérsias, pois na época o clero xiita falava de dezenas de milhares de mortos. Emad al-Din Baghi, historiador da Fundação dos Mártires do Irã, estabeleceu o número de 88 em suas pesquisas. Michel Foulcaut, testemunha ocular, falou em 2 a 3 mil mortos. O número exato nunca será conhecido, mas as imagens do massacre indicam a possibilidade de centenas de mortos
7 COGGIOLA, O. O Irã no centro do mundo. www.blog.controversia.com.br, acessado em 20/10/2009
8 A revogação do uso do chador já havia sido adotada por Reza Khan, pai de Pahlevi.
9 MARX, K., ENGELS, F. Feuerbach, a oposição entre as concepções materialista e idealista. Capítulo 1 de A ideologia alemã Lisboa: Ed. Estampa, 1975, p. 72.
10 Declaração de Khomeini em Paris.
11 Bonapartismo: regime de caráter ditatorial, apoiado diretamente nas Forças Armadas e executado pela burocracia estatal. Seu governo “da ordem” apela sempre a um “árbitro inapelável”, capaz de arbitrar entre os distintos setores e classes sociais, com o objetivo de derrotar o movimento operário e estabilizar o Estado burguês. Porém, o governo Khomeini nos primeiros meses da revolução, quando os Comitês Revolucionários exerciam um duplo poder, pode ser caracterizado como kerensquista.
12 DIVÈS, Jean Phillippe. Uma guerra contra os pueblos de Irak e Irán. Correo Internacional, n. 7, 1985.
13 Idem
15 Idem. Para uma análise completa da guerra Irã-Iraque, o artigo referenciado pode ser encontrado em www.archivoleontrotsky.org.
16 A eleição presidencial norte-americana ocorreu em novembro de 1980. Um dos principais fatores que contribuiu para a derrota de Carter em sua tentativa de reeleição foi a crise dos reféns e o fracasso da Operação Garra de Águia.
17 BROUÉ, P. História da Internacional Comunista. São Paulo: Ed. Sundermann, 2008
18 PARRAS, Angel Luis. Islamismo, ex-pressão distorcida do nacionalismo. Em: O Oriente Médio na perspectiva marxista. São Paulo: Editora Sundermann, 2007, p. 167

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Stalin, Trotsky e a greve geral britânica de 1926 - Chris Marsden

Palestra ministrada na escola de verão do Partido da Igualdade Socialista (Socialist Equality Party — SEP) em agosto de 2007. Extraído do site: http://www.wsws.org/pt/2009/mar2009/ptbg-m26.shtml


A Greve Geral britânica de maio de 1926 permanece, depois de mais de 80 anos, um momento determinante na história do movimento dos trabalhadores. Suas lições são essenciais para o desenvolvimento de uma estratégia revolucionária, na Grã-Bretanha e no mundo.

A greve geral deveria ter sinalizado o início de um desenvolvimento pronunciado em direção ao socialismo revolucionário pelos trabalhadores britânicos e uma ruptura organizacional e política com a burocracia dos sindicatos e do Partido Trabalhista. A greve tinha o potencial de desenvolver-se num confronto revolucionário entre capital e trabalho. Desde os seus primeiros dias, envolveu milhões de trabalhadores, incluindo mais de um milhão de mineradores.

Ainda assim, historiadores retratam a greve como um episódio excepcional dentro de um movimento reformista, legalista e pacífico desenvolvimento que se desenvolvia nos trabalhadores ingleses — uma sociedade caracterizada por antagonismos agudos, mas que poderiam ser controlados dentro do quadro da democracia parlamentar.

Essa interpretação é auxiliada pelos escritos de historiadores do trabalho de caráter social-democrata e stalinista, que insistem que a revolução nunca foi uma possibilidade ou que, se o perigo se apresentasse, sua realização teria sido o maior desastre já abatido sobre o povo britânico. As ações incendiárias dos responsáveis, caso a revolução houvesse acontecido, ameaçariam os esforços de assegurar um acordo industrial aceitável para ambos os lados.

Como afirma um livro recente, Uma Greve Muito Britânica, 3-12 de maio de 1926, pela jornalista do Guardian Anne Perkins: "Em grande medida, a Greve Geral britânica em 1926 foi quase um produto acidental do medo da revolução; em uma atmosfera mais calma, poderia não ter havido um catalisador."

A greve foi supostamente um grande mal entendido, resultado de uma reação interna exagerada a uma ameaça que era na verdade externa.

Esse retrato é geralmente sustentado com anedotas sobre jogos de futebol entre grevistas e polícia (o que de fato aconteceu, cortesia dos líderes sindicais — os grevistas ganharam por 2 a 1), e sobre fura-greves pertencentes à um grupo cômico de estudantes. Acima de tudo, o argumento para chamar a greve de infeliz incidente está em sua curta duração e no curso de desenvolvimento subseqüente da classe trabalhadora.

De fato, era a avaliação dos perigos contidos na greve feita por representantes da burguesia britânica no governo, e não a dos intérpretes dos dias posteriores, que estava correta. Era uma avaliação compartilhada pelo Congresso e por líderes do Partido Trabalhista, que responderam vendendo a greve após meros nove dias, abandonando os mineradores, que lutaram sozinhos até a derrota.

Foi a rejeição pelo Partido Comunista de uma perspectiva revolucionária, em favor do Conselho Geral do TUC (Congresso dos Sindicatos) e em particular dos esquerdistas, que desarmaram politicamente a classe trabalhadora e facilitaram essa traição histórica. A facção de Stalin do Partido Comunista Soviético e do Comintern impuseram essa linha sobre o Partido Comunista da Grã-Bretanha (PCGB).

Stalin e seus aliados retiraram da derrota na Alemanha em 1923 a conclusão de que o capitalismo estava entrando em um período de estabilização no qual não havia chance real de um desenvolvimento revolucionário na Europa. A tarefa central era, desse modo, resguardar a União Soviética da ofensiva imperialista.

Na Inglaterra, esse rumo oportunista tomaria a forma do Comitê Anglo-Russo estabelecido em 1925 — uma aliança entre os sindicatos russos e o TUC feita para garantir o auxílio mútuo e o apoio entre sindicalistas dos dois países, opor a guerra e encorajar relações amigáveis entre a Inglaterra e a URSS.

A Oposição de Esquerda, formada por Leon Trotsky em 1923, era contrária a essa perspectiva.

Para estimar o significado da greve geral e sua traição, é necessário colocar a questão: havia ou não uma situação pré-revolucionária na Inglaterra?

Stalin negava tal possibilidade. Falando sobre sua perspectiva do socialismo em um só país e sua batalha contra Trotsky, ele declarou em 10 de fevereiro de 1926, "Ora, se a vitória da revolução no Ocidente está um tanto atrasada, nada podemos fazer, aparentemente, a não ser esperar... Há um longo, longo caminho entre o apoio dos trabalhadores no Ocidente e a vitória da revolução no Ocidente..."

Qual era a posição de Trotsky sobre a situação na Inglaterra e a política da facção de Stalin? Ele explica em sua autobiografia Minha Vida:

"O destino da Inglaterra após a guerra era um assunto de grande interesse. A mudança radical em sua posição não poderia deixar de trazer mudanças igualmente radicais em sua correlação de forças interna. Estava claro que mesmo se a Europa, incluindo a Inglaterra, restaurasse certo equilíbrio social por um período mais ou menos estendido de tempo, a própria Inglaterra poderia alcançar tal equilíbrio somente pelo meio de sérios conflitos e abalos. Eu acreditei ser possível que na Inglaterra, se comparada com todos os lugares, a luta da indústria do carvão levaria a uma greve geral. A partir disso, assumi que a contradição essencial entre as velhas e as novas organizações da classe trabalhadora e suas novas tarefas históricas seriam, é claro, reveladas no futuro próximo. Durante o inverno e a primavera de 1925, enquanto estava no Cáucaso, escrevi um livro sobre isso — Whither England? [Para Onde Inglaterra?]. O livro abordava principalmente a concepção oficial do Politbureau, em suas esperanças de uma evolução para a esquerda do Conselho Geral Britânico e de uma penetração gradual e sem dor do comunismo nas fileiras do Partido Trabalhista Britânico e dos sindicatos."

Trotsky complementou: "...dentro de alguns meses, a greve dos mineradores de carvão se tornou uma greve geral. Eu não havia esperado uma confirmação tão prematura de minha previsão."

Na introdução de 24 de maio de 1925 à edição americana de Whither England?, publicada depois como "Where is Britain Going?" [Para Onde Vai a Inglaterra?], Trotsky escreveu:

"A conclusão que eu alcanço em meu estudo é que a Grã-Bretanha se aproxima, em máxima velocidade, de uma época de grandes levantes revolucionários... A Grã-Bretanha se move na direção da revolução porque a época do declínio capitalista se assentou. E se procurarmos os perpetradores, então em resposta à questão de quem ou o que está propelindo a Inglaterra a percorrer a estrada para a revolução precisamos dizer: não Moscou, mas Nova Iorque.

"Uma resposta como essa pode parecer paradoxal. Ainda assim, corresponde inteiramente à realidade. A poderosa e sempre crescente pressão mundial dos Estados Unidos torna a problemática da indústria britânica, do comércio britânico, das finanças britânicas e da diplomacia britânica crescentemente irresolvível e dramática.

"Os Estados Unidos não podem deixar o rumo da expansão no mercado mundial, ou o excesso ameaçará sua própria indústria com um ‘golpe.' Os Estados Unidos somente podem expandir às custas da Inglaterra."

A mineração de carvão se tornou central na luta para reorganizar a economia e a vida social britânica. Havia passado ao controle governamental durante a guerra e era pesadamente subsidiada.

Frente à rigorosa competição global por mercados, ainda mais com a retomada da produção no Ruhr, os subsídios governamentais precisavam acabar — mesmo diante do risco de provocar a oposição feroz da classe trabalhadora.

O conservadorismo e gradualismo que permeavam o movimento trabalhista na Inglaterra são submetidos à crítica implacável de Trotsky. Mas ele sabia que a base objetiva desses traços — a dominação de uma aristocracia trabalhista e o cultivo deliberado da colaboração de classes pela classe dominante — entrava em colapso juntamente com a hegemonia global da Grã-Bretanha.

A radicalização da classe trabalhadora britânica já havia se manifestado imediatamente após a guerra, com três vezes mais dias de greve entre 1919 e 1921 do que nos anos do pré-guerra.

Mas essa onda militante havia se dissipado após a Sexta-feira Negra, 15 de abril de 1921, quando a liderança dos sindicatos ferroviário e do transporte renegaram seu compromisso da Tripla Aliança de entrar em greve em apoio aos mineradores. Muitos trabalhadores rasgaram seus cartões do sindicato em desprezo, decididos que nenhuma traição similar ocorreria no futuro — uma motivo chave, junto com a rejeição de qualquer processo de conciliação pelo governo, pelo qual cinco anos depois o TUC se sentiu compelido a chamar uma greve geral.

A classe trabalhadora buscou uma solução política, respondendo com um governo Trabalhista em 1924. O governo foi derrubado depois de apenas nove meses como resultado de uma caça às bruxas anti-comunista.

O temperamento militante e revolucionário da classe trabalhadora também se expressava na crescente influência do Partido Comunista da Grã-Bretanha, formado em 1920. O PCGB, que possuía apenas 4.000 membros em 1923, formou o NMM [National Minority Movement — Movimento Nacional de Minoria] nos sindicatos, que nos anos seguintes, cresceu para englobar cerca de um quarto do corpo de membros dos sindicatos e teve sucesso em eleger Arthur James Cook como líder do sindicato dos mineradores em 1924. Também formou o Movimento de Esquerda Nacional dentro do Partido Trabalhista em 1925, fazendo campanha pelo direito de afiliação e contra a expulsão Trabalhista dos Comunistas.

Os Comunistas haviam tido sucesso em tornarem-se delegados nos comitês trabalhistas e na conferência do Partido Trabalhista. Na conferência de 1923 havia 430 delegados Comunistas, e na eleição geral de dezembro de 1923 o PC elegeu nove candidatos, sete dos quais integrantes do Partido Trabalhista. Os candidatos do PC receberam 66.500 votos. O Workers' Weekly vendia então cerca de 50.000 cópias, mais que qualquer outro semanal socialista.

Enquanto Trotsky terminava Whither England?, os proprietários das minas de carvão pressionavam por um choque frontal com os mineradores. Mas o governo Conservador de Stanley Baldwin decidiu que não estava pronto, e em 31 de julho de 1925, a "Sexta-feira Vermelha," recuou e garantiu mais subsídio aos proprietários das minas de carvão para adiar as demandas por cortes salariais massivos e reestruturação.

Nos nove meses que se seguiram, a classe dominante também se preparou para o conflito com a classe trabalhadora. Estabeleceu a Organização para a Manutenção dos Suprimentos (OMS) para liderar operações quebra-greve, incluindo o treinamento de forças militares e o recrutamento de voluntários civis. A OMS se tornou uma casa oficial para praticamente todo elemento fascista e de extrema-direita na Bretanha. A Lei de Poderes Emergenciais de 1920 permitiu a prisão sem mandado de qualquer um que fosse simplesmente suspeito de um crime, e buscas sem mandado e se necessário forçadas. O secretário de estado foi capacitado a usar as forças armadas conforme julgasse necessário.

Winston Churchill era então o Chanceler de Exchequer. Ele assumiria o papel-chave no trabalho para esmagar a greve geral, junto com o secretário doméstico William Joynson-Hicks.

Em 14 de outubro de 1925, a polícia invadiu os quartéis-generais nacional e de Londres do PCGB, da Jovem Liga Comunista, do NMM e do Workers Weekly. No total, doze líderes foram presos — oito na época, quatro depois — incluindo Willie Gallacher, Harry Pollitt, e Robin Page Arnott — quase todo o birô político. Eles foram encarcerados e acusados de incitação ao motim, sob um ato datado de 1797. Permaneceram na cadeia por seis meses ou um ano, e a maioria ainda estava presa quando a greve geral começou.

Cento e sessenta e sete mineradores da Federação de Mineradores de Gales do Sul também foram levados a julgamento por conta de uma greve em julho e agosto. Cinquenta foram mandados à prisão.

A prisão dos líderes do PC evocou protestos em massa. Ocorreram marchas, uma de 15.000 pessoas, para a Prisão de Wandsworth todo fim de semana, e um comício no Queen's Hall de Londres em 7 de março, descrito pelo membro do Partido Trabalhista George Lansbury como "um dos maiores encontros já organizados em Londres". Lansbury notou que parlamentares do Partido Trabalhista usaram linguagem sediosa para desafiar o secretário doméstico a prendê-los.

Cerca de 300.000 assinaturas foram colhidas para uma petição exigindo a soltura dos 12, e um prisioneiro membro do PCGB, Wally Hannington, foi eleito para o comitê executivo do Conselho Sindical de Londres.

No coração dos avanços do PCGB estava uma linha política que direcionava o partido à classe trabalhadora e à uma disputa com a burocracia sindical e Trabalhista pela direção do movimento. Essa política se baseava na linha desenvolvida pelo Comintern em 1921 sob o slogan, "Às massas". Mas o sucesso de tal disputa dependia acima de tudo da exposição das pretensões dos representantes de "esquerda" da burocracia.

Enquanto direitistas como Walter Citrine e Jimmy Thomas da União Nacional de Ferroviários eram oponentes explícitos do comunismo, esquerdistas como Alonzo Swales da união dos engenheiros, Alfred Purcell do comércio de mobílias e George Hicks dos construtores civis afagavam o PCGB e discursavam com retórica radical e mesmo marxista para melhor enganar a classe trabalhadora.

Purcell era presidente do TUC e Bromley seu secretário. Sua eleição era medida do humor militante dentro dos sindicatos. Purcell havia se juntado ao PCGB em seus primeiros dias, junto com o líder da Federação de Mineradores, A. J. Cook. Ambos saíram logo e estabeleceram um certo grau de independência, mantendo ao mesmo tempo uma conveniente conexão com o partido, o que lhes dava credenciais esquerdistas.

Suas declarações mais radicais geralmente eram feitas com relação a questões de política externa — oposição à guerra e chamada pelo estabelecimento de relações com a URSS, questões que eles tratavam porque não os comprometiam com nada de prático e não interferiam em sua aliança com a direita. Na conferência do Partido Trabalhista de 1925, em Liverpool, que assumiu a decisão de excluir os Comunistas do corpo de membros do Trabalho, eles não disseram nada.

Foi a partir da iniciativa dos "esquerdistas" que o Congresso do TUC de 1924 decidiu enviar uma delegação para visitar a Rússia em novembro-dezembro. A visita levou à formação do Comitê (de Unidade) Anglo-russo em abril de 1925.

Trotsky não havia se oposto à formação do Comitê Anglo-russo. Era correto, disse ele, tirar vantagem da virada para a esquerda da classe trabalhadora, à qual os "esquerdistas" estavam se adaptando retoricamente. Mas a tarefa era expor os "esquerdistas" do TUC e, assim fazendo, travar uma guerra contra toda a burocracia, construindo a influência do Partido Comunista.

A linha stalinista era o pólo oposto de tal perspectiva. Como Trotsky explicou em Sobre o Esboço de Programa do Comintern em 1928, "O ponto de partida do Comitê Anglo-russo, como vimos, foi a impaciência de pular por cima do Partido Comunista, jovem e lento demais em seu desenvolvimento. Isso investiu toda a experiência com um falso caráter mesmo antes da greve geral.

"O Comitê Anglo-russo era visto não como um bloco episódico no topo que teria de ser quebrado e que inevitavelmente e demonstrativamente seria quebrado no primeiro teste, comprometendo o Conselho Geral. Não, não apenas Stalin, Bukharin, Tomsky e outros, mas também Zinoviev, viram em uma "parceria" duradoura, um instrumento para o revolucionamento sistemático das massas trabalhadoras inglesas, e se não um portão, ao menos uma aproximação em direção ao portão através do qual cavalgaria a revolução do proletariado inglês. Quanto mais longe ia, mais o Comitê Anglo-russo se transformava, de uma aliança episódica, em um princípio inviolável parado acima da luta de classes real. Isso se revelou na época da greve geral."

Para resumir, a linha de Stalin era baseada em:

1) Um profundo ceticismo quanto à possibilidade da revolução, como evidenciado por seu argumento de um novo período de estabilização capitalista.

2) Um desvio para longe da tarefa de construir um Partido Comunista, em favor de alianças oportunistas com a burocracia sindical.

3) A noção de que essas forças poderiam eventualmente ser empurradas para a esquerda por pressão militante e de que agiriam como substitutas ao partido.

4) O abandono ou diminuição da crítica aos aliados de Moscou, ao menos aos "esquerdistas", e uma recusa em retirar quaisquer conclusões práticas mesmo quando se tornava impossível permanecer em silêncio.

Zinoviev declarou em 1924, no Quinto Congresso do Comintern: "Na Inglaterra estamos agora passando pelo começo de um novo capítulo do movimento Trabalhista. Não sabemos exatamente de onde o partido comunista de massas da Inglaterra virá, se pela porta Stewart-MacManus [do PCGB — Bob Stewart e Arthur MacManus eram líderes do PCGB] ou se por outra porta."

Trotsky apresenta uma crítica paralisante à posição da facção de Stalin e seus cálculos políticos em Minha Vida:

"Stalin, Bukharin, Zinoviev — nessa questão eles estavam todos em solidariedade, ao menos no primeiro período — buscavam substituir o Partido Comunista Inglês por uma "corrente mais ampla" que tinha em sua cabeça, certamente, não membros do partido, mas "amigos," quase-comunistas, de qualquer forma bons homens e bons conhecidos. Os bons homens, os "líderes" sólidos, não queriam, é claro, submeterem-se à liderança do pequeno e fraco Partido Comunista. Era seu pleno direito; o partido não pode forçar ninguém a submeter-se a ele. Os acordos entre os Comunistas e os "esquerdistas" (Purcell, Hicks e Cook) na base de tarefas parciais do movimento sindical eram, é claro, bem possíveis e em certos casos inevitáveis. Mas sob uma condição: o Partido Comunista precisava preservar uma completa independência, mesmo dentro dos sindicatos, agir em seu próprio nome em todas as questões de princípio, criticar seus aliados de "esquerda" sempre que necessário, e desse modo, ganhar a confiança das massas passo a passo.

"Esse único caminho possível, porém, parecia longo demais e incerto para os burocratas da Internacional Comunista. Eles consideraram que por meios de influência pessoal sobre Purcell, Hicks, Cook e outros (conversas nos bastidores, troca de correspondência, banquetes, tapinhas amigáveis nos ombros, exortações gentis), iriam encaminhar, de forma gradual e imperceptivelmente, a oposição de "esquerda" ("a corrente ampla") para o rio da Internacional Comunista. Para garantir o sucesso dessa empreitada com maior segurança, os queridos amigos (Purcell, Hicks e Cook) não deveriam ser contrariados ou incomodados, não deveriam sofrer de insatisfação como alvos de críticas inoportunas, intransigência sectária etc... Mas já que uma das tarefas do Partido Comunista consiste precisamente em atrapalhar a paz e alarmar todos os centristas e semi-centristas, uma medida radical teve de ser tomada na subordinação do Partido Comunista ao "Movimento de Minoria." No campo do movimento sindical apareciam apenas os líderes desse movimento. O Partido Comunista britânico havia praticamente deixado de existir para as massas."

Essa foi a traição política fundamental da clique de Stalin. Em Lições de Outubro, Trotsky avisara:

"Sem um partido, à parte de um partido, sobre a cabeça de um partido, ou com o substituto de um partido, a revolução proletária não pode ser vitoriosa. Essa é a principal lição da década passada. É verdade que os sindicatos ingleses podem se tornar um nivelador em favor da revolução proletária; eles podem, por exemplo, até tomar o lugar dos soviets dos trabalhadores sob certas condições e por um certo período de tempo. Eles podem ter tal papel, porém, não à parte de um Partido Comunista, e certamente não contra o partido, mas somente sob a condição de que a influência comunista se torne a influência decisiva nos sindicatos."

Em um artigo publicado no Internacional Comunista logo após a Greve Geral, Problemas do Movimento Sindical Britânico, Trotsky citou passagens de sua correspondência de janeiro-março de 1926, imediatamente antes da greve, onde explicou:

"O movimento de oposição liderado pelos esquerdistas, semi-esquerdistas e pelos de extrema-esquerda reflete uma profunda mudança social nas massas."

Porém, ele continou, "A lanosidade dos "esquerdistas" britânicos junto com seu elcetismo teórico, e sua indecisão política, para não dizer covardia, torna a clique de MacDonald, Webb e Snowden senhora da situação, o que por sua vez é impossível sem Thomas. Se os chefes do Partido Trabalhista britânico formam uma rédea posta sobre a classe trabalhadora, então Thomas é a fivela na qual a burguesia insere as rédeas...

"O atual estágio de desenvolvimento do proletariado britânico, onde a enorme maioria responde com simpatia aos discursos dos "esquerdistas" e apóia MacDonald e Thomas no poder, não é, certamente, acidental. E é impossível pular por cima desse estágio. O caminho do Partido Comunista, como o futuro grande partido das massas, passa não apenas por uma luta irreconciliável contra a agência especial do capital sob a forma da clique Thomas-MacDonald, mas também pelo desmascaramento sistemático dos burros "esquerdistas" por meio dos quais MacDonald e Thomas podem manter suas posições."

As exigências de Trotsky foram suprimidas, rejeitadas e denunciadas com a defesa, feita pelo Comintern, de que o Partido Comunista da Grã-Bretanha se subordinasse à aliança com o Congresso dos Sindicatos (TUC, na sigla em inglês) e sua ala esquerdista, tomando como demanda central do partido e de sua agitação o lema "Todo o poder ao Conselho Geral [do TUC]".

Para entender exatamente que mudança estava sendo imposta, podemos olhar o que o PCGB dizia antes de ser totalmente conduzido pelo Comintern à sua nova linha política. Alguns perigos já estava colocados com a idéia de um Movimento Nacional de Minoria, mas, ainda assim, o contraste é gritante.

Em agosto de 1924, a primeira conferência anual do Movimento Nacional de Minoria convocou a instauração de comitês de fábrica e o fortalecimento dos poderes do Conselho Geral como arma contra o regionalismo. Mas isso foi combinado com um chamado pela luta contra o topo da burocracia sindical. Uma resolução declarava: "Não se pode imaginar que o aumento dos poderes do Conselho Geral terá a tendência de fazê-lo menos reacionário. Pelo contrário, a tendência é que se torne ainda mais reacionário... Podemos evitar que o Conselho Geral se torne uma máquina dos capitalistas. Somente podemos fazê-lo avançar do Conselho Geral para uma Comissão Geral dos Trabalhadores, antes de tudo e fundamentalmente, se desenvolvermos uma consciência de classe revolucionária no corpo de membros do sindicato..."

Escrevendo em 1924 sobre o papel dos esquerdistas, que demandavam relações com a URSS e faziam discursos anti-guerra, John Ross Campbell já alertava: "No entanto, seria uma política suicida se o Partido Comunista e o Movimento de Minoria depositarem muita confiança sobre o que chamamos de ala esquerda oficial... É o dever do nosso partido e do Movimento de Minoria criticar suas fraquezas implacavelmente e transformar o ponto de vista confuso e incompleto dos líderes mais progressistas da esquerda num ponto de vista revolucionário. Mas os trabalhadores revolucionários jamais podem esquecer que sua principal atividade deve ser capturar as massas".

Rajani Palme Dutt escreveu em 1925: "Uma ala esquerda no movimento da classe trabalhadora precisa se basear na luta de classes, caso contrário realizará apenas manobras para confundir os trabalhadores".

Ele declarou que o maior perigo no período futuro seria a habilidade dos "esquerdistas — devido à fraqueza do desenvolvimento revolucionário na Inglaterra e à autoridade e prestígio de suas posições — em ganhar o ouvido das massas com um punhado de frases e promessas, ganhando também em torno de si o movimento das massas em ascenso para, depois, dissipá-lo num fiasco de uma ópera cômica... o Partido Comunista precisa conduzir uma incessante guerra ideológica contra a esquerda, expondo desde sempre toda expressão que traga confusão, ambiguidade, bravata vã, frivolidade e oposição à luta real e sujeição prática à direita".

Mesmo sobre do estabelecimento do comitê anglo-russo, o Workers Weekly comentou:

"Unidade que significa apenas um acordo educado entre líderes é inútil, a não ser que seja apoiada pela pressão das massas. A unidade que se limita a negociações entre Amsterdã e sindicatos russos apenas alcança a superfície da questão... Vastas massas trabalhadoras em todos os lugares avançam vagarosamente. Os líderes que estiverem em seu caminho serão varridos. A luta de classes não pode se limitar a uma troca de cartas diplomáticas".

A luta política contra os esquerdistas estava ligada a uma orientação revolucionária. Depois da Sexta-feira Vermelha, em 1925, J.T. Murphy escreveu que a greve geral havia sido adiada mas ainda era inevitável: "Nos deixem expressar claramente o que significa uma greve geral. Só pode significar a derrubada de todo o poder à disposição das mãos do Estado capitalista. Ou esse desafio é um gesto... ou ele precisa se desenvolver em uma luta real pelo poder..."

Sob a tutela de Stalin, Zinoviev e companhia, tais críticas foram abandonadas e a perspectiva revolucionária previamente avançada foi denunciada como ultra-esquerdismo e trotskismo.

Stalin ora identificava a revolução com o Conselho Geral do TUC — insistindo em janeiro de 1925 que a "ruptura incipiente entre o Conselho Geral do TUC e o Partido Trabalhista" era um sinal de que "algo revolucionário... se desenvolve na Bretanha" —, ora rejeitava qualquer possibilidade de revolução, escrevendo no Pravda em março que o capital havia "se libertado do pântano da crise do pós-guerra", o que criou "um tipo de calmaria."

O PCGB se comprometeu com esse ponto de vista. Uma resolução denunciando Trotsky foi enviada à Moscou e um artigo de Bukharin atacando Trotsky foi publicado no Communist Review de fevereiro de 1925, com um comentário editorial descrevendo-o como "uma brilhante contribuição à teoria e prática do leninismo."

Em março e abril, uma plenária conjunta da executiva do Comintern e do comitê central do Partido Comunista Soviético foi realizada para organizar a campanha contra o "trotskismo." Tom Bell relatou que o PCGB não "hesitou" em associar-se à direção do partido soviético.

O Workers' Weekly de 5 de junho de 1925 relatou que o Congresso do PCGB não havia dado qualquer "suporte ao otimismo revolucionário daqueles que sustentam que estamos às vésperas de imediatas e vastas lutas revolucionárias. Reconheceu que o capitalismo havia se estabilizado temporariamente."

A segunda conferência anual do Movimento Nacional de Minoria em agosto fez de sua exigência central a garantia de plenos poderes ao Conselho Geral do TUC, praticamente sem qualquer crítica.

Dutt, escrevendo em novembro para desculpar os aliados de esquerda do Comintern por não terem se oposto às expulsões de comunistas do Partido Trabalhista em 1925, explicou que eles careciam de "auto-confiança." A "superação dessa fraqueza" era "uma tarefa essencial para o futuro", declarou.

Três dias antes da erupção da greve geral, em 30 de abril de 1926, Murphy escreveu na capa do Workers' Weekly: "Nosso partido não tem posições dirigentes nos sindicatos. Não está conduzindo negociações com os empregadores e o governo. Somente pode dar sugestões e dispor suas energias aos trabalhadores — liderados por outros... Sustentar quaisquer perspectivas exageradas sobre as possibilidades revolucionárias desta crise e visões de uma nova liderança 'se levantando espontaneamente em meio à luta' é algo fantasioso..."

[Citações retiradas de Essays on the History of British Communism, M. Woodhouse e B. Pearce, New Park, 1975]

O papel do PC em desarmar a classe trabalhadora evidencia-se na declaração subseqüente de Murphy, onde se afirma que "o choque" da traição da greve "era grande demais para tornar possível a rápida construção de uma nova direção."

O mesmo é válido para os comentários de George Hardy, secretário em exercício do Movimento de Minoria Nacional durante a greve geral. Em suas memórias, diz que "apesar de sabermos da traição que os líderes da direita eram capazes de realizar, não entendíamos claramente o papel dos assim chamados esquerdistas na direção do sindicato. Eles acabaram se provando sacos de ar e capitularam à direita. Aprendemos uma grande lição: ao desenvolver oficialmente um movimento em direção à esquerda, o principal ponto de preparo precisa ser sempre o desenvolvimento de uma liderança com consciência de classe na base dos membros."

Tais declarações demonstram que, privada de qualquer orientação revolucionária pelo PCGB, a classe trabalhadora não tinha qualquer possibilidade de se armar contra os esquerdistas, que eram continuamente elogiados sob ordens do Comintern.

Dessa forma, os esquerdistas foram capazes de assumir um papel direto e instrumental na traição da greve. O direitista Thomas, da União Nacional de Ferroviários, estava encarregado das negociações com o governo e trabalhava deliberadamente para assegurar a derrota. Mas os esquerdistas permitiram que ele o fizesse, em condições onde milhões não possuíam qualquer confiança no Conselho Geral do TUC ou na liderança do Partido Trabalhista. O presidente do Comitê de Organização da Greve era Purcell, enquanto Swales negociava ao lado de Thomas com o governo Baldwin. Hicks e outros também ocupavam postos-chave.

Os líderes do PCGB tiveram sucesso em transformar o partido em um subgrupo de esquerda dentro da burocracia sindical, enquanto os sindicatos russos serviam de meros advogados da militância industrial. Todo o aparato da Internacional Comunista estava mobilizado para negar a necessidade da greve geral ser conduzida como uma luta política contra o Estado e para insistir que a união sindical sozinha podia trazer a vitória.

Quanto aos líderes do PCGB não terem sido avisados sobre a traição dos esquerdistas, isso é simplesmente mentira.

Trotsky escreveu em 6 de maio, em meio à greve, em seu prefácio à segunda edição alemã de Para Onde a Bretanha Está Indo?: "Nunca foi possível atravessar uma torrente revolucionária montado no cavalo do reformismo. Uma classe que entra na batalha dirigida por líderes oportunistas está compelida a mudá-los, mesmo estando sob fogo inimigo."

O PCGB procurou suprimir esses avisos. Para Onde a Bretanha Está Indo? não foi publicado na Inglaterra até muito depois da traição do TUC.


Brian Pearce era um membro do Grupo de História do PCGB, ao lado de E.P. Thompson e Eric Hobsbawm. Foi recrutado para o movimento trotskista por Gerry Healy após o discurso secreto de Kruschev em 1956 e escreveu alguns dos melhores textos sobre a Greve Geral e a história do Partido Comunista. Ele observa que o prefácio citado acima da edição americana de "Para Onde a Bretanha Está Indo?" foi omitido, assim como todo o parágrafo seguinte: "A mais importante tarefa dos participantes verdadeiramente revoluciónários da greve geral será lutar resolutamente contra todo sinal de traição e expor implacavelmente as ilusões reformistas."

Graças ao Comintern, a greve geral foi dirigida não apenas por pessoas que não acreditavam na revolução, mas por uma liderança que era a oponente mais resoluta e determinada da revolução. A atitude do TUC quanto à greve, e consequentemente o serviço prestado ao TUC pela facção de Stalin do Comintern, foi resumida por Thomas no parlamento em 13 de maio, um dia após a traição da greve. Ele disse: "O que eu temia sobre esta greve mais do que todo o resto era: se por algum motivo ela escapasse das mãos daqueles capazes de exercer algum controle, todo homem são sabe o que teria acontecido... Esse perigo, esse medo estava sempre em nossas mentes..."

A greve ocorreu somente porque o TUC foi lançado numa disputa que não podia evitar e o governo queria uma disputa para a qual tivesse se preparado com grande antecedência. A Comissão do Carvão, indicada pelo governo e liderada por Sir Herbert Samuel, se manifestou em 10 de março recomendando cortes salariais e restruturação. No dia 8 de abril, os mineradores pediram ao TUC que apoiasse seu lema "nem um centavo a menos de salário, nem um minuto a mais de trabalho" [not a penny off the pay, not a minute on the day] e a não-retirada dos acordos nacionais. O Comitê Especial do TUC apoiou uma redução nos salários e recomendou maiores conversas.

Chamadas por paralisações do trabalho foram coladas em toda área mineradora no dia 16 de abril, marcadas para durar 14 dias. O governo exigiu que os mineradores aceitassem o relatório da Comissão do Carvão e o Conselho Geral concordou com o governo. Mas os mineradores recusaram. As paralisações começaram em 30 de abril e o Rei assinou uma Proclamação Emergencial para o 1 de Maio.

Thomas explicou que "implorou e implorou" como nunca. "Nós primamos, nós apelamos, nós imploramos por paz, porque queremos paz. Ainda queremos paz. A nação quer paz", disse. Mas a paralisação continuou.

No dia 1 de maio, o TUC realizou uma conferência especial e anunciou planos para a greve, indicada para 3 de maio. O chamado de greve foi aceito pela maioria massiva dos presentes na conferência. Os líderes sindicais continuaram a fazer esforços desesperados para alcançar um acordo entre governo e proprietários de minas. Mas quando os impressores do Daily Mail recusaram um editorial condenando a greve geral como "um golpe revolucionário que só pode ter sucesso com a destruição do governo e a subversão dos direitos e liberdades do povo", o primeiro ministro Stanley Baldwin usou isso como pretexto para cancelar as negociações.

Ele disse ao presidente do comitê de negociação do TUC: "É um desafio direto, um desafio direto, Mr. Pugh, e não podemos continuar. Eu sou grato a você por tudo o que fez, mas essa negociação não pode continuar. Adeus. Este é o fim". Disse ainda a Walter Citrine: "Bom, foi bom conhecer você e eu acredito que, se vivermos, nos encontraremos de novo para resolver o assunto. Se vivermos."

Em seguida, mostrou a ambos a porta de saída.

A greve começou em 3 de maio e atingiu imediatamente os transportes, impressão e indústrias produtivas — aço, metal, químicos pesados, comércio de materiais de construção, eletricidade e gás. Envolveu quatro milhões dos cinco milhões e meio de trabalhadores organizados nos sindicatos.

Os trabalhadores responderam não apenas por simpatia aos mineradores, mas por saberem que seriam os próximos. Muitos lembraram da declaração de Baldwin em 1925 durante negociações com os líderes dos mineradores, afirmando que "todos os trabalhadores deste país precisam aceitar reduções salariais para ajudar a colocar a indústria em pé".

A Organização pela Manutenção dos Suprimentos (OMS) foi acionada, focando sua atenção em manter o transporte funcionando. Os navios de guerra Ramillies e Barham foram chamados de volta do Atlântico e ficaram ancorados em Mersey. Além deles, outros também foram ancorados na maioria dos grandes portos.

Em 6 de maio, Baldwin descreveu a greve como "um desafio ao parlamento" e "o caminho à anarquia." O advogado atuante na corte superior, Sir John Simon, disse à Câmara Baixa do parlamento que a greve era ilegal e os grevistas haviam quebrado seus contratos. Assim, disse ele, a Lei de Disputas Comerciais de 1906, que protegia sindicalistas individuais e fundos sindicais de danos externos, não era mais válida. No dia seguinte, o TUC se encontrou com Sir Herbert Samuel e a Comissão do Carvão, onde fez propostas para encerrar a disputa. Essas propostas, no entanto, foram rejeitadas pela Federação de Mineradores.

Do ponto de vista da classe dominante, e em contraste com a covardia do TUC, se tratava de uma verdadeira guerra. Eles organizaram uma força de centenas de milhares de homens — a OMS, 240.000 tropas especiais, as forças armadas — para quebrar a greve. Para citar apenas as duas maiores ofensivas: no dia 8 de maio, logo pela manhã, mais de cem caminhões formaram um comboio escoltado por mais de vinte carros blindados carregando soldados para manter o fluxo de suprimentos nas docas de Londres. Caminhões quebraram a linha de piquete e transportaram comida para Hyde Park. Além disso, o governo também tentou usar a OMS nas docas em Newcastle com o apoio das armas de dois destróieres e um submarino, provocando a fuga dos funcionários portuários que cuidavam dos alimentos. A ação da polícia causou confrontos por todo o país.

Se tratava de uma situação pré-revolucionária? Permitam que eu leia a seguinte passagem, um tanto longa, sobre o tipo de conflito que se desenvolveu, no relato de Christopher Farnam (The General Strike 1926, Panther, 1972).

"Piquetes de massa aglutinaram-se nas vias principais da saída ao leste de Londres antes das sete horas na manhã de terça-feira. Durante o dia, filas de veículos suspeitos de carregar suprimentos ou trabalhadores administrativos para dentro ou fora da cidade eram parados e frequentemente destruídos. Vários veículos foram incendiados, outros foram jogados no rio. Depois de uma noite de intensas batalhas de rua, trinta vítimas civis foram levadas ao Hospital em Poplar. Um homem morreu na manhã de quarta-feira...

"Na noite de terça-feira também ocorreram distúrbios em Newcastle e em Chester-le-Street perto de Durham, onde a polícia atacou uma multidão que tinha invadido a estação ferroviária."

Na quarta-feira, "ocorreram mais ataques da polícia em Poplar e Canning Town, além de choques violentos no Túnel Blackwall, onde carros foram amassados e incendiados. Em Hammersmith sete ônibus foram destruídos, grevistas e fascistas lutaram ferozmente e a polícia fez quarenta e três prisões. Ataques contra bondes e ônibus também levaram a embates esporádicos em Leeds, Nottingham, Manchester, Stoke, Liverpool, Glasgow e Edimburgo. Em Sheffield, quatro homens foram presos por porte ilegal de armas.



"Na quinta-feira, ocorreram mais enfrentamentos na saída leste. Em Elephant e Castle a polícia montada atacou uma multidão nervosa que perseguia um ônibus que, ao desviar dos piquetes de greve, bateu numa calçada, matando um homem. Na mesma área, outro ônibus foi incendiado. O correspondente londrino do Manchester Guardian Bulletin relatou que 'As coisas parecem mais sérias hoje com as ruas mais vazias por conta da adesão dos taxistas. Há mais ônibus agora, cada um com um ou dois policiais ao lado do motorista. Um novo plano dos grevistas foi tentado esta manhã em Camberwell; algumas mulheres colocaram seus bebês na estrada no caminho de transportes comerciais e, quando os carros pararam, homens pularam sobre os estribos e retiraram os motoristas, esmagando a maquinaria dos veículos'. Ocorreram novos enfrentamentos em Nottingham quando os grevistas tentaram marchar até as fábricas onde o trabalho ainda ocorria e grevistas enfrentaram a polícia em batalhas acirradas em Cardiff, Ipswich e Leeds...

"Uma multidão de 4.000 homens quebrou suprimentos e estações de passageiros em Middlesbrough e acorrentou caminhões aos trilhos de trem. Enquanto a marinha lutava para quebrar a linha, a luta também emergiu no terminal de ônibus e perto de uma delegacia de polícia... Em Aberdeen a polícia atacou com golpes de bastão uma multidão de mais de 6.000 pessoas que quebrava as janelas dos ônibus e trens que passavam...

"Na sexta-feira, houve nova violência em Polar, Ipswich, Cardiff e Middlesborough, além de distúrbios em Sheffield, Newark e Darlington. Uma multidão de 1.500 demoliu um muro de tijolos em Wandsworth para obter mísseis e um membro dos British Fascisti [Fascistas Britânicos] quase foi linchado quando dirigiu deliberadamente sua van em direção a uma multidão de manifestantes em Wormwood Scrubs, ferindo gravemente um homem".

Em Hull, "conforme a revolta se espalhava, vagões eram atacados e queimados, autoridades civis apelavam à ajuda do Capitão do Ceres, o cruzador leve responsável pela proteção das Docas de Hull. Enquanto cinquenta de seus homens enfrentavam a multidão com rifles e baionetas, o capitão se dirigiu à eles do mezanino da prefeitura, explicando que era seu dever resguardar a propriedade da cidade e avisando que se outro vagão fosse atacado iria posicionar marinheiros em todos os vagões."

O desenvolvimento de conselhos de ação durante a disputa continha elementos embrionários da dualidade de poder—o equivalente dos soviets, mas na Bretanha. Um Conselho Nacional de Ação havia sido formado em agosto de 1920 para se opor à intervenção contra a União Soviética, inspirando muitas versões locais que, como escreveu o Diretorado de Inteligência, "mais e mais assumiam a forma de soviets e em algumas áreas formavam planos para a tomada da propriedade privada e dos meios de transporte."

Durante a greve, os conselhos de ação estiveram à frente em todo o país. Um grevista de Clydeside explica, "Os comitês de greve centrais e os conselhos de ação ficavam em sessão vinte e quatro horas por dia. Eles possuíam seu próprio transporte; paravam todas as outras formas de transporte mas mantinham seu próprio sistema de entregas para carregar mensagens, porque não havia serviço postal ou imprensa. A imprensa aderiu cem por cento à greve e parou todos os jornais, e assim o conselho de ação precisava fazer seu trabalho com bicicletas, velhas e novas, motocicletas, vans velhas — qualquer coisa que tivesse rodas era usada pelos mensageiros e também para levar os líderes da greve a certas frentes."

O conselho de ação de East Fife havia estabelecido sua própria milícia trabalhadora de defesa, com 700 membros, e regularmente se engajava em combates contra a polícia.

Que essa expressão inicial da dualidade de poder não tenha ido adiante foi somente devido à liderança do Partido Comunista e do Comintern.

Brian Pearce observa que a fidelidade do PC ao Conselho Geral do TUC havia tornado-o impotente, ao ponto de possibilitar que o teórico social-democrata Harold Laski escrevesse em 1927, "É digno de nota que na Greve Geral britânica de 1926 os comunistas não tiveram qualquer papel," e que o jornalista Hamilton Fyfe afirmasse em seu diário, "Os comunistas se mantiveram muito quietos... no Continente, mesmo na América, são os extremistas que vão ao topo durante crises. Aqui eles afundaram para longe da vista."

Quanto ao governo e o Estado, eles faziam tudo o que podiam para eliminar a ameaça comunista. Relatos da imprensa Comunista, informando que o regimento dos Guardas Welsh do exército havia se amotinado e estava confinado à base e que outros regimentos haviam se recusado a atacar os operários da mineração, foram apreendidos pela polícia para justificar prisões e invasões ao quartel-general do Partido Comunista com base na acusação de incitação ao motim.

Como Margaret Morris deixa claro em sua obra, A Greve Geral (Journeyman Press, 1976), o PC continuou a ser um alvo preferencial durante toda a greve.

"Muitos dos presos por produzir ou distribuir boletins contendo `incitações ao motim´ ou `falsos rumores´ eram Comunistas envolvidos na edição do boletim dos Trabalhadores do Partido Comunista ou suas versões locais. A mera posse de uma cópia de um desses boletins era considerada base suficiente para a tomada de medidas legais... a invasão aos escritórios do Partido Comunista e o foco em retirar suas publicações de circulação mandou os Comunistas à ilegalidade completa: os membros dirigentes mudavam de endereço toda noite para evitar o encarceramento..." Ao fim do processo, "O secretário doméstico disse à Câmara Baixa do parlamento que 1.760 pessoas foram indiciadas por crimes na Inglaterra e Wales durante a greve, das quais 150 foram acusadas de `incitação´ sob o Ato de Poderes Emergenciais e imputados de `desordem´; 632 foram aprisionadas e o resto saiu sob fiança. O número total de processados na Escócia não foi disponibilizado, mas 409 pessoas foram sentenciadas à prisão, 140 das quais sob o Ato de Poderes Emergenciais e o resto por intimidação, contrariar a paz, invasão, etc... o Partido Comunista... estimou que algo entre um quarto e um quinto de seu corpo de membros foi preso durante a greve."

O próprio PCGB divulga um número de 2.500 presos no total e estima que 1.000 de seus membros estavam nessa estatística, com mineiros especialmente mirados. O membro Comunista do parlamento Shapurji Saklatvala foi preso em 1926 após um discurso em apoio à greve dos mineiros do carvão, e mantido encarcerado por dois meses.

O TUC tinha sua própria versão da mesma política anti-comunista, insistindo que apenas a propaganda que aprovasse podia circular. Emitiu uma declaração contra espiões e outros que "usam linguagem violenta para incitar os trabalhadores à desordem." Ramos do sindicato e comitês de greve chegaram ao ponto de insistir que reuniões terminassem com uma cantoria de "Deus Salve a Rainha" e "Governe Bretanha" em vez de "Bandeira Vermelha."

Longe de se opor a essa supressão burocrática, o PCGB fez seu melhor para assegurar a cooperação de seus membros. Hardy do NMM explicou, "Enviamos instruções do quartel-general do Movimento de Minoria orientando nossos membros ao estabelecimento de conselhos de ação em todas as áreas. Avisamos, porém, que os conselhos de ação em nenhuma circunstância deveriam assumir o trabalho dos sindicatos... Os conselhos de ação deveriam garantir que todas as decisões do Conselho Geral e dos delegados sindicais fossem executadas."

Em 12 de maio, o Conselho Geral do TUC visitou o primeiro ministro para anunciar sua decisão de chamar o fim da greve. Sua única exigência era que as propostas da Comissão Samuel fossem implementadas e que o governo garantisse que não haveria qualquer vitimização dos grevistas. Quando o governo se recusou a fazer tal promessa, o TUC previsivelmente acabou com a greve assim mesmo. Lord Birkenhead depois escreveu que sua rendição foi "tão humilhante que algo instintivo nos tornava indispostos a até mesmo olhar para eles."

É testemunho da escala da traição que 100.000 saíram às ruas após a Greve Geral ser interrompida e que havia mais gente em greve em 13 de maio do que em qualquer momento dos nove dias de greve oficial.

A manchete do Northern Light dizia, "Há somente uma explicação para esta traição — nossos líderes não acreditam no Socialismo." O Newcastle Workers Chronicle escreveu, "Nunca antes na história da luta dos trabalhadores — com a exceção da traição de nossos líderes em 1914 — houve uma traição tão calculada contra os interesses da classe proletária."

Mesmo nesse ponto, a possibilidade existia de reverter a trilha desastrosa que o PCGB percorria. Com uma luta em favor da linha correta, dezenas ou centenas de milhares haveriam respondido. Como Perkins reconhece, "A greve estava acabada. Mas nem o governo nem o TUC acreditavam que o status quo anterior podia ser restaurado da noite para o dia. Os dois lados sabiam que para os extremistas, uma oportunidade sem precedentes havia emergido. Milhões de homens inertes, muitos deles perplexos e inconformados com o fato da greve ter terminado com a derrota quando eles estavam prontos para continuar a luta, constituíam um campo de recrutamento para o Comunismo que o próprio Lenin teria sonhado em criar...

"Ao longo de nove dias, o pesadelo que havia perseguido tanto o governo quanto o TUC era o de que `uma situação revolucionária´ do tipo que os estrategistas de greve Comunistas almejavam poderia se desenvolver. Agora as ações do governo e do TUC pareciam perigosamente próximas de conseguir isso."

Milhares de fato inundaram o P,c cujo número de membros dobrou naquele ano, de 6.000 para 12.000. O stalinista História do Partido Comunista da Grã-Bretanha, Volume 2, escrito por James Klugmann, explica que "o verdadeiro influxo ao Partido Comunista começou nos últimos dias da Greve Geral e imediatamente em seguida... Era algo novo na história do Partido. O Conselho Geral havia vendido a greve. Os mineradores continuavam a lutar. Em todas as minas de carvão grandes encontros de massas eram realizados, e neles os trabalhadores, acima de todos mineradores, passavam para o Partido Comunista às centenas. A Executiva de 14 de julho relatou 3.000 novos membros desde a Greve Geral e vendas do Workers Weekly de até 70.000 exemplares."

Klugmann escreve corretamente, "Com esse novo influxo uma tremenda tarefa e responsabilidade se abriu para o Partido Comunista. Era algo excelente, ganhar para o Partido Comunista tantos trabalhadores militantes, principalmente das minas. Mas esses eram em geral homens e mulheres que passaram a odiar os líderes de direita, vendo-os como traidores, que passaram a sentir raiva e desgosto quanto ao sistema capitalista. Eles queriam um novo e melhor sistema social, desejavam uma mudança radical... Mas não eram ainda Marxistas em sua perspectiva teórica..."

Longe de treinar esses trabalhadores no Marxismo e dar forma teórica ao ódio por aqueles que os traíram, o PCGB e o Comintern trabalharam para desorientá-los, insistindo em manter a aliança com o TUC no Comitê Anglo-russo.

Em sua vergonhosa biografia de Trotsky, ( Trotsky, Routledge, 2003), Ian D. Thatcher novamente defende Stalin das críticas de Trotsky, afirmando:

"Um importante elemento da crítica da Oposição de Esquerda ao poder de Stalin era, é claro, a visão de que a revolução mundial era traída pelo socialismo em um só país. No outono de 1926 Trotsky chamou Stalin de `coveiro da revolução.´ Se com isso queria dizer que Stalin por vontade própria desperdiçava oportunidades revolucionárias, a crítica é claramente injusta. Na Greve Geral britânica de 1926, por exemplo, Stalin insistiu que os comunistas trabalhassem dentro do comitê sindical anglo-russo estabelecido em 1925, não para que o reformismo triunfasse (como Trotsky acusava), mas para que os reformistas pudessem ser mais facilmente desmascarados. Pode-se questionar o sentido da estratégia de frente única empregada aqui, mas Stalin pensava sinceramente que ela traria aos comunistas mais influência que qualquer alternativa."

Assim como muito do que Thatcher escreve, essa não é meramente uma defesa de Stalin — cuja "sinceridade" dificilmente é o problema — que cospe na cara do registro histórico. É uma defesa que poderia ter vindo diretamente da boca de Stalin.

No pós-greve imediato, Trotsky e a Oposição insistiram que o Comintern rompesse imediatamente com o TUC. Em uma carta ao Pravda de 26 de maio de 1926, Trotsky declarou, "Toda a presente `superestrutura´ da classe trabalhadora britânica, em todas as suas gradações e grupos, sem exceção, é um aparato para pôr um breque à revolução."

Stalin denunciou essa avaliação como ultra-esquerdismo e defendeu a continuação do comitê anglo-russo — como uma frente única que serviria para desmascarar os reformistas!

Em um discurso no comitê de unidade anglo-russa em 15 de julho de 1926, Stalin afirmou que o problema era se "nós, como Comunistas, trabalhamos nos sindicatos reacionários. É essencialmente essa a questão que Trotsky nos coloca em sua recente carta no Pravda ....

"Podemos nós, como Leninistas, como Marxistas, de fato pular e ignorar um movimento que ainda não caducou, podemos pular e ignorar o atraso das massas, podemos virar nossas costas e passar por eles; ou devemos nos livrar desses traços conduzindo uma luta irrefreável contra eles entre as massas?"

Indo ao ponto, Stalin declarou que "se os sindicatos reacionários da Bretanha estão preparados para unirem-se num bloco contra os imperialistas contra-revolucionários de seu país, porque não deveriamos dar as boas vindas a esse bloco?"

Coerentemente com a retórica sofista de Stalin, as teses da plenária do Comitê Executivo da Internacional Comunista (CEIC) sobre as lições da Greve Geral, 8 de junho de 1926, declaravam que "que os líderes sindicais ingleses quebrassem o comitê seria um ato tão demonstrativamente anti-classe trabalhadora que iria acelerar fortemente o movimento das massas trabalhadoras britânicas para a esquerda.

"Nessas circunstâncias, que os sindicatos Soviéticos tomassem a iniciativa de deixar o comitê... seria um golpe à causa da unidade internacional, um ato de todo `heróico´, mas politicamente não-aconselhável e infantil."

A décima quinta Conferência do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) aprovou uma resolução de 26 de outubro de 1926 declarando: "O Partido sustenta que os países capitalistas avançados estão, no todo, em um estado de parcial, temporária estabilização; que o presente período é inter-revolucionário, tornando incumbência dos Partidos Comunistas a preparação do proletariado para a revolução vindoura... O bloco de oposição parte de premissas inteiramente diferentes. Sem qualquer fé nas forças internas da revolução, e caindo no desespero devido ao atraso da revolução mundial, o bloco de oposição escorrega para longe das bases de uma análise Marxista das forças de classes da revolução e chega em uma que consiste em auto-engano `ultra-esquerdista´ e aventureirismo `revolucionário´; nega a existência de uma estabilização parcial do capitalismo, e, conseqüentemente, se inclina ao putschismo.

"Daí a exigência da oposição pela revisão da tática da frente única e quebra do comitê anglo-russo, sua falha em compreender o papel dos sindicatos, e seu chamado para substitui-los por novas organizações proletárias `revolucionárias´ de sua própria invenção."

O Conselho Russo de Sindicatos publicou um manifesto com base na Greve Geral declarando que fora traído pelo TUC e pela ala direita do Partido Trabalhista, mas insistindo que "apesar do fato de os líderes sindicais terem infligido um golpe pesado sobre a classe trabalhadora britânica, a causa da unidade internacional e o comitê anglo-russo, nós não somente não propomos a abolição do comitê anglo-russo, mas chamamos por sua completa ressuscitação, e um fortalecimento e intensificação de sua atividade."

Naturalmente essa linha exigia que o PCGB continuasse a fazer tudo em seu poder para não contrariar os líderes sindicais.

Após a greve geral, o Conselho Geral do TUC emitiu um ultimato aos conselhos sindicais proibindo-os de afiliarem-se ao Movimento de Minoria. Conselhos sindicais em Glasgow, Sheffield e Manchester se opuseram, mas a liderança do PCGB exigiu a concordância!

Pearce cita Murphy ao explicar, "Os trabalhadores não podiam entender essa nova aliança entre os comunistas e o Conselho Geral, e sua resistência foi assassinada."

Similarmente, em setembro de 1926, Harry Pollitt escreveu sobre o congresso do TUC naquele ano, "Em vista da decisão majoritária em favor da completa solidariedade registrada em Scarborough, o novo Conselho Geral simplesmente terá de prosseguir mais vigorosamente com a luta em defesa dos trabalhadores. É verdade, a ala direita do Conselho é fortalecida pelo retorno de um ou dois que não apóiam a idéia de que estamos envolvidos em uma luta de classes, mas eu penso que a pressão das massas por detrás forçará mesmo esses a entrar na linha."

Coube ao próprio TUC deixar o comitê anglo-russo em seu Congresso de Edimburgo, 1927, no qual os delegados soviéticos tiveram a entrada negada.

O terrível impacto da traição da greve geral não pode ser colocado o suficiente. Trotsky argumentara que a própria sobrevivência do imperialismo britânico agora dependia não dos social-democratas de direita, mas dos supostos esquerdistas, sem os quais a direita não poderia manter sua posição no movimento trabalhista.

Em sua autobiografia, Trotsky pergunta, "Qual foi o resultado do experimento britânico dos stalinistas? O Movimento de Minoria, abarcando quase um milhão de trabalhadores, parecia muito promissor, mas continha os gérmens da própria destruição. As massas conheciam como líderes do movimento apenas Purcell, Hicks e Cook, que, além do mais, Moscou referendava. Esses amigos de `esquerda´, em um teste sério, traíram vergonhosamente o proletariado. Os trabalhadores revolucionários foram jogados num estado de confusão, afundaram em apatia e naturalmente estenderam seu desapontamento ao próprio Partido Comunista, que havia sido apenas a parte passiva de todo esse mecanismo de traição e perfídia. O Movimento de Minoria foi reduzido à nulidade; o Partido Comunista retornou à existência de um secto irrelevante. Desse modo, por conta da concepção radicalmente falsa do partido, o maior movimento do proletariado britânico, que levou à Greve Geral, não apenas não abalou o aparato da burocracia reacionária, mas, ao contrário, reforçou-o e comprometeu o Comunismo na Grã-Bretanha por um longo tempo."

Ele escreveu em 1928: "Acordos temporários podem ser feitos com os reformistas sempre que eles derem um passo a frente. Mas manter um bloco quando, assustados pelo desenvolvimento de um movimento, eles cometem traição, é equivalente a tolerar criminalmente os traidores e velar a traição...

"Dada tal condição das massas trabalhadoras como a revelada pela greve geral, o posto mais alto no mecanismo da estabilização capitalista não mais é ocupado por MacDonald e Thomas, mas por Pugh, Purcell, Cook, e Companhia. Eles fazem todo o trabalho e Thomas dá os toques finais. Sem Purcell, Thomas estaria pendurado em pleno ar, e junto com Thomas também Baldwin. O principal freio sobre a revolução inglesa é a máscara diplomática do `esquerdismo´ de Purcell, que confraterniza, às vezes alternadamente, às vezes simultaneamente, com cléricos da igreja e bolcheviques, e que está sempre pronto não só para retiradas mas também para traição."

Respondendo à afirmação de Stalin que uma estratégia revolucionária era putschismo devido a estabilização do capitalismo, ele continuou, " Estabilização é Purcellismo. A partir disso vemos que profundezas de absurdo teórico e oportunismo cego são expressados na referência à existência de `estabilização´ para justificar o bloco político com Purcell. Ainda assim, precisamente para quebrar a `estabilização´, o Purcellismo deveria primeiro ser destruído. Em tal situação, mesmo uma sombra de solidariedade com o Conselho Geral era o maior crime e infâmia contra as massas trabalhadoras."

Quanto ao impacto desse infame crime político na Bretanha, os mineradores retornaram ao trabalho em outubro de 1926 e as vitimizações e demissões começaram. Ao final da década de 1930, o emprego na mineração havia caído em mais de um terço, enquanto a produtividade por homem havia subido na mesma proporção.

Em 1927, o governo britânico passou o Ato de Disputas Comerciais e o Ato Sindical, que tornava as greves de solidariedade e o piquete de massa ilegais, proibia que sindicatos de servidores civis se afiliassem à TU,c e declarava que membros do sindicato eram obrigados a concordar com o pagamento dos seus impostos sindicais ao Partido Trabalhista.

Em 1928, instigados por Citrine e Hicks, o presidente do TUC Ben Turner e SIr Alfred Mond, presidente das Indústrias Químicas Imperial, engajaram-se em diálogo. Seu objetivo era estabelecer a maquinaria para a consultoria sobre os problemas gerais da indústria entre as organizações dos empregadores e os sindicatos. Esse plano de colaboração de classe corporativista nunca foi adotado formalmente, mas isso não quer dizer que ele não tenha sido implementado.

Em junho de 1929, o Partido Trabalhista veio ao poder novamente, sob Ramsay MacDonald. Em novembro do mesmo ano a quebra de Wall Street mergulhou o mundo em recessão. MacDonald respondeu pressionando por medidas de austeridade exigidas pelo serviço civil, que não foram aceitas pelo gabinete.

Em 24 de agosto de 1931 o governo caiu. MacDonald, junto com JH Thomas e outros, pisou sobre os cadáveres para formar o Governo Nacional com os Conservadores e os Liberais. Thomas foi encarregado da área de emprego. A "década do diabo," os Anos Trinta Famintos, quando o desemprego alcançou a marca dos três milhões em 1932, havia começado.

Thomas, deve ser observado, foi forçado a deixar o parlamento em maio de 1936 depois de ser considerado culpado de vazar segredos orçamentários para seu filho, o corretor de ações Leslie, o parlamentar Conservador Sir Alfred Butt e o empresário Alfred Bates.

A linha assumida pelo Comintern também teve um impacto terrível sobre a classe trabalhadora soviética. Disseram-lhes que os esquerdistas no Conselho Geral do TUC estavam à frente da luta da classe trabalhadora internacional e ela respondeu de acordo. Durante a greve, trabalhadores coletaram o equivalente em rublos a mais de 1 milhão de libras—em 1926!—para ajudar os grevistas britânicos.

No ápice da greve, o TUC recusou-se a aceitar o dinheiro, com Hicks do comitê anglo-russo chamando-o de "este maldito ouro russo." Dias depois esses mesmos esquerdistas assinaram a traição da greve, mas ainda foram louvados por meses a fio como aliados vitais dos trabalhadores soviéticos na luta pela paz e contra a intervenção.

Foi uma experiência que não poderia ter sido melhor projetada para espalhar desorientação e cinismo político—um humor que ajudou a consolidar o controle da burocracia stalinista sobre o aparato do Estado e do partido, e que ajudou a pavimentar o caminho para a expulsão da Oposição para fora do PCUS em dezembro de 1927. Além disso, foi uma aliança ligada a outra que se provaria bem mais letal—com o Kuomintang na China de Chiang-Kai-Shek.