Documentário realizado por comunidades do Vale do Jequitinhonha (MG/Brasil) retratando impactos sociais e ambientais das plantações de eucalipto para a produção de carvão pela empresa Acesita (Arcelor Mittal) na região, desde suas origens no roubo de terras, passando pelo secamento de represas, destruição da flora e fauna nativa e proibição da retirada de resíduos das plantações para a subsistência da população.
Há algumas décadas a população de parte significativa do Vale do Jequitinhonha foi roubada. Não por um roubo qualquer, de perda de um bem ou uma poupança, mas pela usurpação violenta de seus meios de subsistência e trabalho, de produção e reprodução da vida. Um grupo numeroso de trabalhadores rurais, que vivia do cultivo e da criação de gado para consumo próprio, teve suas terras surrupiadas pela então estatal Acesita para plantação de milhares e milhares de hectares de Eucalipto, matéria-prima do carvão utilizado por suas usinas.
Cidades como Turmalina, Capelinha, Itamarandiba e Minas Novas foram tomadas pela monocultura exótica de origem australiana, caracterizada por consumir grande quantidade de água, em uma região predominantemente seca e naturalmente marcada por uma vegetação de menor porte. As milhares de famílias perderam as chapadas que durante décadas serviram para criação de gado e coleta de frutas típicas da região como o pequi. Não restou outra saída que partir para o trabalho informal e degradante de sobreviver vendendo o carvão produzido arcaicamente a partir dos resíduos do eucalipto, ou seja, dos restos da madeira que a Acesita deixava para trás ao julgar impróprios para a produção de carvão. Assim, grande parte da população rural deste setor do Vale que antes produzia mandioca, feijão, milho, algodão, criava gado, porcos e galinhas, passou a sobreviver através de recursos mínimos gerados pelos resíduos deixados pela Acesita.
Não bastasse a injustiça dos que perderam suas terras para a estatal, toda população da região foi brutalmente afetada. Afinal, sem seguir qualquer norma ambiental, com a conivência das elites locais e dos governos regionais e federal, fazendo total descaso de uma região pobre e sem influência na política brasileira, a então Acesita não exitou em estender suas plantações para as proximidades das nascentes, lagoas e barragens que forneciam água para as comunidades rurais e os municípios próximos, provocando longas temporadas de seca que inviabilizaram a maior parte das plantações que ainda restavam, levando as comunidades rurais a carecerem de água para consumo interno.
A substituição de uma quantidade desproporcional de cerrado pelo eucalipto devastou a fauna típica da região, caracterizando assim um crime ambiental em todos os níveis imagináveis.
Em 1992 a Acesita é privatizada e posteriormente vendida e transformada em Arcelor Mittal. Era plausível imaginar que o quadro crítico anteriormente descrito não iria melhorar, mas a transnacional se superou: Proibiu o acesso de qualquer pessoa a sua área e consequentemente o acesso aos resíduos (leia-se, lixo para a Arcelor). Desta maneira, retirou as migalhas que apopulação expropriada tinha para sobreviver, reduzindo-os à mais completa miséria e humilhação. Sem o menor pudor, a criminosa empresa originária do Vale do Aço não exita em destruir a carroça do trabalhador que tenta se apossar do resíduo ou em mandar para cadeia uma senhora de 75 anos que coletava lenha.
O documentário referenciado abaixo é resultado de relatos de dezenas de vitimas do caso descrito. Os depoimentos mostram pela boca das pessoas diretamente envolvidas como se deu todo o processo, desde a expropriação no passado, passando pelo desastre ecológico e, consequentemente, social em toda região, que atinge seu ápice justamente neste momento, quando a Acesita (agora transnacional Arcelor Mittal) veta o acesso às migalhas. É impossível assistir ao filme que se segue sem uma boa dose de emoção e ao mesmo tempo indignação. Ao se gritar por socorro, espera-se que alguém escute. Este é seguramente o objetivo do documentário. Não cruzemos os braços, intensifiquemos nossas ações na direção da expropriação dos expropriadores.
Gustavo Henrique Lopes Machado e Guilherme Farrer
Grito de Socorro - Desastre Ambiental e Social no Jequitinhonha - Parte 1 from Vale on Vimeo.
Grito de Socorro - Desastre Ambiental e Social no Jequitinhonha - Parte 2 from Vale on Vimeo.
Grito de Socorro - Desastre Social e Ambiental no Jequitinhonha - Parte 3 from Vale on Vimeo.
Parte 1
http://www.vimeo.com/3977389
Parte 2
http://vimeo.com/4093709
Parte 3
http://www.vimeo.com/4294236
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